Crónica de D. João I

Crónicas de D. João I
Capítulo 11
1. O pajem e Álvaro de Pais cavalgam pelas ruas de Lisboa bradando ao povo (que tanto adorava Mestre de Avis) que o Conde Andeiro estava prestes a matar o Mestre nos paços da rainha.
2. A população pega em armas, algumas até improvisadas, na esperança de salvar o Mestre. Ao chegar aos paços, a multidão encontra as portas do paço fechadas, fazendo com que os ânimos de quem ali estava se descontrolassem numa tentativa de verificarem se o Mestre estava vivo.
3. Ao ver que a população estava deveras inquieta, Mestre de Avis aparece à janela dos paços confirmando a sua sobrevivência e anunciando que o Conde está morto e, portanto, nada há a temer.
4. Após o tumulto, o Mestre deixa os paços e contacta com a população que se mostra aliviada e alegre novamente.
Capítulo 115
1. Mestre e seus aliados recolhem alimentos (gado) às terras envolventes na com objetivo de aguentar um possível longo cerco à cidade. A população, inicialmente, divide-se entre aqueles que decidem fugir para Setúbal, aqueles que irão aguentar a cidade e uma minoria que permanece nas vilas apoiando Castela.
2. Já dentro das muralhas, preparam-se defesas ao nível dos: muros, torres, armamento e homens de armas, entradas da cidade, zonas ribeiras, etc. Nesta preparação são referidos não só fidalgos, a quem foram delegadas algumas tarefas maiores, como também mulheres que ajudam, sem medo, a preparar os terrenos.
3. Existe uma comparação, por parte do cronista, entre os portugueses que defendem tão bem a sua cidade e os filhos de Israel (que o mesmo fizeram) e ainda é destacado a superioridade de rei de Castela em termos de quantidade de homens, mas apenas para que realçar a postura valente da cidade Lisboeta perante um inimigo tão feroz.
Capítulo 148
1. Já a meio do longo cerco, os mantimentos faltam devido à elevada população que permanecia dentro das muralhas. A população vê-se com necessidade de procurar alimento fora das muralhas, correndo grande perigo. O Mestre é ainda obrigado a colocar determinados grupos socioeconómicos (miseráveis, prostitutas, quem não combate, judeus…) fora do cerco.
2. Existe quem ainda procure migalhas e sementes no chão imundo para sobreviver, já que o preço dos alimentos básicos é muito elevado. A fome afeta crianças que correm pela cidade procurando esmola e mesmo mães que incapazes de amamentar os filhos vêmnos morrer.
3. Um rumor assombra a cidade: o Mestre iria expulsar todos aqueles que não têm o que comer; no entanto é desmentido mais tarde. O capítulo acaba com um forte e emocionante apelo à "geeraçom que depois veo", ou seja, aqueles que leem a crónica, dizendo que são afortunados aqueles que não tiveram de enfrentar tais sofrimentos.

Crise Dinástica de 1383-1385
D. Fernando, após ter-se envolvido em diversas batalhas com Castela que resultaram em
sucessivas derrotas, acabou por ser obrigado a assinar o Tratado de Salvaterra de Magos com
Castela, tratado este que obrigou D. Beatriz a casar com D. João I de Castela a fim de ceder o
governo de Portugal a Castela e pior que isso a perda da independência.
Personagens Individuais e coletivas
✓ Mestre de Avis – demonstra-se um homem multifacetado, por um lado é bravo e inteligente, devido ao esquema e destreza com que executou o plano de matar o Conde Andeiro, por outro lado, é também um homem receoso e solidário que se identifica com o mais comum homem do povo. É um verdadeiro líder.
✓ Álvaro Pais – Membro da burguesia que atua como aliado do Mestre e que é fundamental no plano de influenciar a alma do povo a vir socorrer o Mestre quando este estava em suposto perigo.
✓ D. Leonor Teles – Mulher que representa o falso governo português, pois embora fosse rainha e legítima herdeira do trono, estava envolvida com a corte espanhola e na tentativa de extinguir a liberdade lusa. Era apoiada pela alta nobreza e clero e repudiada pelo povo que a apelidava de "aleivosa"2 .
✓ Povo – Personagem considerada principal e que, tal como expresso antes, constitui a força geradora de revolução. Pode ser apelidado também de herói coletivo, na medida em que representa todos aqueles que queriam preservar a independência de Portugal.
De facto, a Crónica de D. João I consiste no primeiro documento (daí ter sido revolucionário e
tão importante nos dias de hoje) que representa a afirmação e consciência coletiva do povo
enquanto cidadãos portugueses que protegem a todo o custo a sua nação, daí referimo-nos
também a Fernão Lopes como o primeiro historiador português
Linguagem e Estilo Lírico
✓ Visualismo – Descrição viva e próxima da imaginação onde são incluídas sensações (visão, audição, olfato) ou até mesmo o ritmo e os ânimos presentes através de recursos expressivos (comparação, enumeração, adjetivação e personificação) e também da descrição pormenorizada dos locais ou das ações.
✓ Dinamismo – Colocação do leitor no desenrolar das ações, ou seja, existe a ilusão de que nos encontramos no desenrolar do enredo. Este envolvimento é feito por: sequencialização gradativa3 das ações; uso de verbos de ação (verbos que imprimem ritmo e força ao discurso); e existe predomínio da caraterização indireta das personagens, pelo seu comportamento.
✓ Coloquialismo – como forma de aproximar o leitor, mais uma vez, à ação narrada, Fernão Lopes utiliza: 1ª/2ª pessoa; linguagem oralizante e expressões populares; utilização alternada e diversa de diferentes registos discursivos (descrição, narração, diálogo); algum discurso direto conferindo intensidade dramática à ação.